Artigo 13/08/2024

Empresas dos EUA buscam reforçar Conselhos com especialistas em geopolítica

Em meio ao aumento das tensões globais e à crescente importância da "geoeconomia", empresas dos Estados Unidos estão intensificando a busca por especialistas em geopolítica para reforçar os Conselhos de Administração. A movimentação escancara a necessidade de adaptação das grandes corporações ao uso da economia como ferramenta de poder por parte dos governos, algo que tem alterado o cenário de riscos corporativos.

Para o professor de Direito de Stanford, Curtis Milhaupt, os Conselhos enfrentam uma decisão crucial: desenvolver internamente ou adquirir expertise externa sobre riscos geopolíticos. Apesar disso, poucas empresas divulgam publicamente como gerenciam esses riscos, mesmo em um contexto de tensões crescentes entre EUA e China, que resultaram em sanções, tarifas e controles de exportação.

Milhaupt aponta que o impacto desse cenário é sentido diretamente na governança corporativa. Ele ressalta que, mesmo com o aumento no número de diretores independentes com experiência internacional, faltam membros com histórico em governos ou forças armadas — áreas que podem oferecer habilidades para a supervisão dos riscos geopolíticos.

A pesquisa de Milhaupt também revela que, entre as empresas que divulgam suas estratégias de gestão de risco geopolítico, poucas deixaram a tarefa a comitês especializados ou a um diretor de risco. Além disso, quase nenhuma delas oferece informações detalhadas sobre como avaliam esses riscos, o que impacta a transparência.

Quanto à gestão da cadeia de suprimentos, muitas empresas optam pelo "friend shoring", buscando fornecedores em países aliados para reduzir a exposição a riscos geopolíticos. Mesmo assim, Milhaupt alerta que essa estratégia exige uma colaboração estreita e contínua entre governos e corporações para gerenciar cada etapa das cadeias de suprimentos, que, por vezes, são longas e complexas.

Pesquisas da KPMG reforçam a preocupação com o risco geopolítico. A instituição identificou que as ameaças geopolíticas, políticas comerciais e governança da inteligência artificial são vistas como os maiores desafios ao crescimento global. Desde 2019, cerca de 3.000 restrições comerciais foram impostas em resposta a esses riscos, com 91 países envolvidos em conflitos em 2023.