Crise mal gerida pode afundar corporações, diz Pedro Parente
As crises mal geridas podem afundar organizações robustas e prejudicar a reputação de longo prazo. Foi o que aconteceu em casos como os da Petrobras, com os escândalos de corrupção deflagrados pela Operação Lava Jato, e mais recentemente no episódio da fraude contábil nas Americanas.
É o que afirma Pedro Parente, um veterano na gestão de crises tanto no setor público quanto no privado. Parente é o primeiro convidado do Boardwise Convida - Histórias de Governança, projeto da Ânima Comunicação em Governança, que visa aprofundar as discussões sobre o tema no Brasil e no mundo.
Apesar do Brasil ter um marco legal e regulatório "paralelo às melhores economias do mundo", segundo Parente, o país testemunhou momentos de crise em grandes corporações. "Não vamos dizer que o que aconteceu se deve ao problema da governança corporativa no Brasil", ele explica, mas ressalta que "quando o desejo e a determinação de quem detém o controle destas empresas de agir contra o melhor interesse da empresa e dos minoritários, não tem governança que segure isso."
Parente enfatiza que uma crise mal gerida pode ter consequências duradouras, citando o exemplo da crise de energia que o Brasil enfrentou nos anos 2000: “Aconteceu porque o governo se confundiu com um conceito. Quando você analisa um risco, tem dois conceitos envolvidos: probabilidade daquele risco acontecer e a consequência se aquele risco acontecer. Então, a gente escutava no âmbito do governo que havia uma probabilidade de acontecer um apagão de 5%, e o que a gente entendia era que, se acontecer um apagão, a consequência é a necessidade de reduzir o consumo em 5%. A dimensão e a gravidade podia ser qualquer número, porque isso é da natureza do sistema hidrelétrico brasileiro”.
Durante a gestão de crises, Parente destaca a importância da transparência total com a sociedade. Uma das principais que enfrentou foi a crise energética de 2001, quando comandou aquele que ficou conhecido como o “Ministério do Apagão”.
"Quando aconteceu a crise, a primeira coisa que pratiquei foi não omitir nada em relação a este assunto", diz. O executivo defende que a resolução eficaz de uma crise depende da autonomia, dos recursos disponíveis, e da colaboração entre todas as organizações e pessoas relevantes. Da mesma forma, Parente aplicou esses princípios durante seu tempo na Petrobras, onde, segundo ele, foi possível gerir uma empresa estatal de acordo com princípios econômicos e no melhor interesse da sociedade e de seus acionistas - conforme manda a legislação.
Mais recentemente, outros casos reforçam os argumentos do executivo: a crise do apagão em São Paulo que afetou a Enel, e a fraude nas Americanas. Parente é enfático: a demora das organizações em reconhecer e comunicar problemas é um erro comum. "Se você não faz uma boa comunicação, você não vai alcançar a percepção que você deseja para aquele fato", afirma.
Biografia
Pedro Parente é um executivo brasileiro com forte experiência em gestão de crises nas esferas pública e privada. Foi Ministro da Casa Civil no governo Fernando Henrique Cardoso e conduziu o país durante a crise histórica do apagão de energia em 2001. Com mais de 53 anos de experiência profissional, Parente começou no Banco do Brasil e Banco Central e esteve à frente dos ministérios de Minas e Energia e Planejamento, Orçamento e Gestão. Além de presidente da Petrobras e da BRF, Parente foi chairman da B3. Hoje, é presidente do conselho de administração e sócio da gestora eB Capital. Recentemente, o executivo foi indicado como chairman da Azzas 2154, empresa resultante da associação entre o Grupo Soma e Arezzo.
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