Quem fala pelos Conselhos de Administração?
Por Simone Monteiro
Conselhos de administração não costumam ter voz própria. Essa tem sido uma tradição de muitos anos, mas, nos tempos atuais, essa prática ainda deve ser seguida? Trata-se de um comportamento responsável, considerando que hoje se exige cada vez mais transparência das companhias? Se os princípios de governança corporativa evoluíram, por que o modo tradicional de tomada de decisão dos Conselhos a portas fechadas e sem questionamentos ainda é aceitável?
O mundo mudou, e muito. Reguladores, acionistas e a imprensa especializada já sinalizaram aos Conselhos e conselheiros que esperam mais deles. Nesta nova era, os colegiados precisam não apenas supervisionar as companhias adequadamente, mas também devem transmitir credibilidade sobre o que fazem. Para isso, precisam de maior liberdade para se comunicar e explicar como suas políticas e decisões se relacionam aos objetivos estratégicos da empresa.
Nos dias atuais, em um ambiente mais transparente e aberto, os conselheiros devem cultivar uma nova habilidade: comunicar como suas boas intenções, motivações e ações aumentam a força e valores da empresa como um todo.
No Brasil, o mercado de capitais amadureceu nos últimos anos e segue em constante evolução. Com o surgimento do Novo Mercado, as empresas tiveram que mudar a forma de comunicação com seus stakeholders.
O mais elevado segmento de listagem da bolsa em termos de governança causou uma revolução nas áreas de Relações com Investidores. Os profissionais de RI aprenderam a se comunicar e a atender demandas do mercado que nunca haviam sido enfrentadas.
A pandemia também suscitou uma revolução da comunicação das empresas com seu público, vide o crescimento das lives. A ascensão do ESG no Brasil e no mundo demanda um novo tipo de postura, tendo a transparência como base.
Ao mesmo tempo, a Governança começa efetivamente a tomar um novo lugar nas discussões. Muitos stakeholders ainda não sabem do que se trata o tema, nem mesmo o papel dos Conselhos.
O Conselho é considerado o mais importante órgão de uma empresa e guardião da sua governança. Investidores e consumidores exigem cada vez mais informações, transparência e posicionamento das empresas. Uma política de comunicação efetiva é um dos pilares para que essa transparência seja percebida.
Não se trata, de forma nenhuma, de confundir a atuação do Conselho com a do ‘management’ da companhia. Isso não pode e não deve acontecer. Situações corriqueiras como divulgação de resultados, apresentação de novos produtos, conferências de analistas não requerem a presença de um conselheiro.
Ao mesmo tempo, é apropriado que os Conselhos busquem suas próprias maneiras de promover a compreensão de suas atividades, responder às críticas e projetar suas contribuições positivas e importantes papel na orientação das corporações.
Os conselhos não devem apenas exercer uma supervisão soberba. Haverá ocasiões na vida de uma empresa em que os membros do Conselho precisarão se manifestar e precisam estar prontos para esta eventualidade. Você está preparado para isso?