O caso Disney e o ativismo de investidores
Por Larissa Caetano
A diretoria da Walt Disney conseguiu uma vitória significativa ao derrotar o investidor ativista Nelson Peltz na disputa pelo controle do Conselho de Administração. A maioria dos acionistas apoiou a chapa de 12 nomes proposta pela empresa durante a assembleia anual, e Peltz não conseguiu eleger nenhum dos seus candidatos.
Mas, engana-se quem pensa que essa foi só mais uma disputa ou um caso isolado. Para Jean Benoit Roquette, especialista em relações com investidores e ex-chefe dessa área na Ubisoft, o caso é um reflexo de uma mudança estrutural nas relações entre corporações e seus acionistas. Em um artigo para a IR Magazine, Roquette destaca que a era do ativismo acionário veio para ficar.
"Os líderes são agora repetidamente desafiados, os conselhos de diretores são subitamente alvos de pressões e as assembleias gerais se transformaram em arenas de batalhas reputacionais", declarou o especialista.
Nesse ambiente, fica ainda mais evidente a necessidade de uma nova abordagem na gestão de relações corporativas, onde a transparência e a responsividade são estratégicas.
O confronto na Disney é um grande exemplo disso. A batalha não foi apenas sobre decisões operacionais ou estratégicas específicas, mas também sobre o respeito pelos direitos dos investidores e a abertura para receber e incorporar suas recomendações.
Roquette acredita que, embora esse cenário imponha um peso sobre as equipes de relações com investidores, finanças, jurídico, compensações, ESG e diretores independentes líderes, ele também traz benefícios significativos.
"É uma tarefa exigente que requer um trabalho árduo e comprometimento de várias equipes. Mas o retorno sobre o investimento é real: o processo comunica aos acionistas que a empresa é respeitosa de seus direitos e aberta às suas recomendações, algo que eles recordarão especialmente em tempos difíceis", explicou.
O caso da Disney reforça a necessidade das empresas de adaptarem suas práticas de governança e comunicação para um ambiente onde os acionistas são mais engajados e exigentes.
Essa transformação nas relações com investidores evidencia uma mudança de poder significativa, onde os acionistas não apenas têm voz, mas também a capacidade de influenciar diretamente o curso das empresas em que investem. Assim, as corporações que melhor entendem e se adaptam a essa nova realidade podem não apenas diminuir riscos, mas também capitalizar em oportunidades emergentes de engajamento acionário.