Artigo 17/07/2025

Ronda da Governança #24

Investidores dos EUA recuam em apoio a pautas climáticas e sociais

Em três anos, caiu pela metade o apoio de investidores a temas ambientais e sociais nas assembleias de acionistas nos Estados Unidos. Até junho deste ano, essas propostas receberam 16% de aprovação, o que muitos apontam como reflexo da pressão política de Donald Trump e outros republicanos e da percepção de que várias empresas já adotaram medidas nessa área. Os dados são da Morningstar, divulgados pela Reuters.

Consultorias de voto como ISS e Glass Lewis também reduziram o apoio a esses tipos de pauta. Para especialistas, é um movimento relacionado tanto ao contexto político quanto à melhoria na divulgação de dados por parte das companhias. “Há menos lacunas de informação para os ativistas atacarem”, afirmou Marc Lindsay, da consultoria Jasper Street.

Até as propostas de grupos conservadores para reverter avanços em diversidade e sustentabilidade não ganharam tração: segundo a Morningstar, receberam apenas 2,7% de apoio. Mesmo assim, ativistas afirmam que muitas empresas preferem negociar a retirada das propostas para evitar desgaste público.

Andreessen Horowitz deixa Delaware

Uma das maiores gestoras de venture capital dos Estados Unidos, Andreessen Horowitz decidiu mudar a sede da empresa de Delaware para Nevada. A decisão foi publicada no site oficial da empresa, assinada por três executivos, e foi acompanhada de duras críticas ao Tribunal de Chancelaria do estado. A empresa que hoje administra US$ 45 bilhões acusou a corte de adotar decisões mais subjetivas e de gerar insegurança jurídica para fundadores e conselhos de startups.

A posição da companhia vem no mesmo momento em que está em evidência um movimento chamado informalmente de Dexit -- conhecido pela saída de companhias como Tesla e Pershing Square do estado. A mensagem foi clara: a Andreessen Horowitz quer que outras empresas de tecnologia levem em consideração Nevada como um polo para as empresas.

Segundo a gestora, Nevada oferece regras mais claras e previsíveis, com proteções legais mais para diretores e executivos, além de restringir o acesso de acionistas minoritários a registros corporativos.

Acordo entre Birman e Jatahy tira Azzas do impasse

Depois de meses de tensões e tentativas frustadas de integração, Alexandre Birman e Roberto Jatahy, sócios majoritários da Azzas 2154 — fusão da Arezzo&Co com o Grupo Soma — chegaram a um denominador comum. Não envolve transação financeira, mas sim mudanças de governança: o acordo de acionistas vai para a gaveta, o conselho será reduzido e não terá mais Pedro Parente na presidência. No lugar dele, entra Nicola Calicchio, ex-McKinsey e conselheiro próximo dos dois empresários.

Peça-chave na mediação entre os sócios, Parente dá adeus à empresa em um momento em que “há uma convicção de que seria preciso harmonia e integração entre os sócios”. Caso contrário, “os empregados e franqueados, estariam perdidos”. Em entrevista ao Pipeline, o economista disse que agora é necessário um perfil voltado à execução e integração, não ao desenho de governança: “O interesse agora da empresa é menos de especialista de governança complexa e mais de alguém como o Calicchio, que olha muito execução nas integrações.”

Birman e Jatahy afirmam que colocaram um ponto final das desconfianças . “Chegamos num nível de confiança entre nós, e a partir disso vamos flexibilizar várias coisas informalmente. Não tem mais blindagens. O que tem agora é um grupo de pessoas competentes com muita vontade,” afirmou Birman ao Brazil Journal.

Pedro Parente e a governança

Meses antes da divulgação dos bastidores tensos dentro da Azzas, Pedro Parente deixou claro que nem sempre boas estruturas de governança são suficientes para evitar turbulências. Ao Boardwise Convida – Histórias de Governança, ele afirmou que, “quando o desejo e a determinação de quem detém o controle destas empresas [são] de agir contra o melhor interesse da empresa e dos minoritários, não tem governança que segure”.

No quadro, Parente também relembrou crises que viveu de perto — como o apagão de 2001 e a reestruturação da Petrobras — e reforçou a importância da transparência. “Crises mal geridas podem afundar organizações robustas e prejudicar a reputação de longo prazo”, disse.