Quem quer ser conselheiro? O jogo de poder mais disputado do mercado
Por Juliana Schincariol para Infomoney
Fazer parte de um conselho de administração é integrar um seleto clube de influência e decisão — no Brasil e no mundo. Poucos têm acesso e muitos desejam participar.
A profissão desperta o interesse de executivos experientes, especialistas de mercado e nomes influentes. Conquistar uma cadeira neste grupo restrito exige muito mais do que currículo robusto: é preciso uma profissionalização constante, networking estratégico, forte reputação e, muitas vezes, a confiança de quem já ocupa posições de influência. É um processo extremamente competitivo.
Esse jogo de alto nível está em pleno andamento neste momento. A temporada de assembleias de 2025 se encerra no fim de abril e concentra a maior parte das eleições para os conselhos de administração das principais companhias brasileiras. De acordo com um levantamento da Ânima Comunicação em Governança, 55 empresas que compõem o Ibovespa elegerão seus conselhos de administração este ano, considerando pelo menos dois membros titulares, em um total de 453 assentos.
Cabe ao investidor olhar com lupa quem são os candidatos indicados e qual o histórico de atuação desses nomes. O estudo da Ânima confirma que fazer parte de um conselho de administração ainda é, em grande medida, integrar um grupo bastante homogêneo. A maioria dos conselheiros é composta por homens de meia idade, geralmente profissionais com carreiras consolidadas como executivos de alto escalão, ex-CEOs e especialistas em áreas estratégicas. As formações mais comuns são em administração, engenharia, economia e direito.
A presença feminina continua minoritária. Em 2025, apenas 22,5% dos candidatos aos conselhos das empresas do Ibovespa são mulheres, um percentual que evolui lentamente. Um dado relevante, porém, é que, ao contrário dos homens, a maioria delas possui perfil independente, ou seja, não está ligada diretamente aos controladores das companhias.
Isso revela um traço importante da dinâmica atual: sem o apoio majoritário das indicações dos controladores, muitas vezes precisam provar, com mais ênfase, sua capacidade de contribuir efetivamente para as decisões estratégicas das empresas. A predominância de mulheres independentes também é um indicativo de que a diversidade nos conselhos ainda ocorre mais por mérito individual do que por compromisso institucional com a inclusão.
A movimentação em direção à diversidade e à independência precisa ser compreendida e valorizada por cada investidor. O engajamento ativo em assembleias, sobretudo na avaliação crítica dos nomes indicados pelas companhias, é fundamental para garantir que o conselho reflita o interesse da companhia— e não apenas o da administração ou dos controladores. No Brasil, o perfil de participação dos investidores é passivo, e o grau de absenteísmo é muito alto. Os investidores sequer parecem ter a curiosidade do que é participar de uma assembleia.
A participação efetiva dos investidores individuais nesse processo ainda é bastante limitada — mesmo entre os mais engajados. Casos como o da assembleia da Berkshire Hathaway, que costuma atrair grande atenção da base de acionistas pessoas físicas, são exceções que confirmam a regra: a governança segue sendo um tema distante da maioria dos pequenos investidores, inclusive nos Estados Unidos.
Outra questão que começa a entrar no radar de empresas brasileiras é o overboarding — quando um mesmo conselheiro ocupa assentos em diversos conselhos simultaneamente, o que pode comprometer sua dedicação e efetividade. Apesar de ainda pouco discutido no Brasil em comparação a mercados mais maduros como EUA e Europa, o tema já motivou reflexões em companhias relevantes, como a Eletrobras. É um sinal de que as práticas de governança no país estão evoluindo e buscando padrões mais elevados de responsabilidade.
Em momentos de mercado em baixa, como o que vivemos atualmente, é natural que investidores pessoa física se sintam desmotivados a participar das assembleias de acionistas. A desvalorização dos ativos e a sensação de impotência diante da volatilidade muitas vezes levam à apatia ou ao afastamento do debate societário.
No entanto, é justamente nesses períodos que o acompanhamento próximo da governança corporativa se torna ainda mais crucial. As decisões tomadas pelos conselhos de administração durante crises podem moldar o futuro das companhias — e, consequentemente, a recuperação dos investimentos. Participar das assembleias, analisar os nomes indicados ao conselho, questionar políticas de remuneração e cobrar estratégias coerentes com o momento econômico são atitudes que fortalecem a posição do acionista e ajudam a construir empresas mais resilientes e transparentes.
Se a essa altura a assembleia da empresa na qual você investe ainda não aconteceu, talvez ainda haja tempo de participar, mesmo que apenas para observar. Mas, se não for possível este ano, que 2026 sirva como um ponto de virada: com mais tempo para se informar, acompanhar os documentos enviados pelas companhias e entender como funciona uma assembleia de perto, o investidor poderá assumir um papel mais ativo na governança. Afinal, mesmo com uma única ação, já é possível exercer esse direito. E a longo prazo, engajamento e informação também são formas de proteger e valorizar o próprio investimento.