Pedro Parente analisa governança no Brasil
A governança corporativa no Brasil é avançada e o estágio atual está condizente às principais economias do mundo. A visão é de Pedro Parente, executivo brasileiro com experiência em gestão de crises nas esferas pública e privada. Parente é o primeiro convidado do Boardwise Convida - Histórias de Governança, projeto da Ânima Comunicação em Governança, que visa aprofundar as discussões sobre o tema no Brasil e no mundo.
Mas por que, afinal, algumas companhias brasileiras enfrentam problemas que têm relação direta com a governança corporativa? O que aconteceu, segundo Parente, foram problemas específicos das organizações. É o caso, por exemplo, da Petrobras, que sofre com ingerência política em diversos governos. O executivo foi presidente da estatal entre 2016 e 2018.
Dessa forma, segundo Parente, ter uma governança forte não é garantia absoluta contra ações que possam prejudicar os interesses da empresa e de seus acionistas minoritários.
"Quando o desejo e a determinação de quem detém o controle destas empresas, de agir contra o melhor interesse da empresa e dos minoritários, não tem governança que segure isso. É óbvio que a governança vai ajudar a expor essas questões e vai dar condições de ter uma vigilância maior da sociedade e dos seus acionistas. E também, como vimos isso recentemente [na Petrobras], por si só isso não garante que a melhor governança será respeitada", afirma.
De acordo com o executivo, o país possui instituições robustas que, apesar de enfrentarem desafios como a insuficiência de recursos, desempenham um papel crucial no fortalecimento da transparência e da integridade corporativa.
"A CVM (Comissão de Valores Mobiliários), por exemplo, é fundamental neste processo, mas padece historicamente pela insuficiência de recursos para exercer as mais relevantes funções. Ainda assim, a CVM é atuante para as companhias abertas”, diz Parente, citando também a eficiência da BSM, braço de autorregulação da B3.
Parente aponta que, embora existam aspectos em que a Europa esteja mais avançada, especialmente no que se refere aos direitos dos minoritários e questões de diversidade e ESG (ambiental, social e de governança, na sigla em inglês), o marco legal e regulatório do Brasil e o funcionamento de suas instituições são diferenciais. "Eu diria que está paralelo às melhores economias do mundo".
Executivos X Boards
Ao Boardwise Convida, Parente também aborda a distinção entre os papéis de executivos e membros de conselhos (boards). Enquanto o executivo precisa agir rapidamente, fundamentando decisões para acelerar o processo decisório, o presidente do conselho deve estimular a discussão e garantir que ela seja produtiva sem se prolongar indefinidamente.
"O executivo tem que ser um líder inspirador, ele desempenha um papel teatral. Muitas vezes, tem que se sacrificar para dar um exemplo. E o presidente do conselho é menos demandado nesse sentido, de exercer esse papel de liderança inspiradora. Ele precisa ter habilidades diferentes no sentido de tirar o máximo de um colegiado que tem pessoas ali que são iguais. Ele não tem um poder maior do que outros conselheiros", afirma.
Biografia
Pedro Parente é um executivo brasileiro com forte experiência em gestão de crises nas esferas pública e privada. Foi Ministro da Casa Civil no governo Fernando Henrique Cardoso e conduziu o país durante a crise histórica do apagão de energia em 2001. Com mais de 53 anos de experiência profissional, Parente começou no Banco do Brasil e Banco Central e esteve à frente dos ministérios de Minas e Energia e Planejamento, Orçamento e Gestão. Além de presidente da Petrobras e da BRF, Parente foi chairman da B3. Hoje, é presidente do conselho de administração e sócio da gestora eB Capital. Recentemente, o executivo foi indicado como chairman da Azzas 2154, empresa resultante da associação entre o Grupo Soma e Arezzo.
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