Desafios e oportunidades para os Conselhos em 2024
Os Conselhos de Administração enfrentam um cenário complexo que exige adaptação contínua. E mais uma vez, em 2024, os colegiados terão que responder a desafios de governança diversos. Ao longo do ano, uma série de acontecimentos não convencionais terão impacto nas lideranças e vão além dos tópicos habituais, como ativismo de acionistas, cibersegurança, criptomoedas e ESG. Há também preocupações éticas, econômicas, tecnológicas, normativas, globais e políticas.
Para ajudar a garantir que seu Conselho esteja preparado para agregar o maior valor, o Boardwise levantou algumas tendências para 2024:
Relatórios de sustentabilidade
Uma das mudanças significativas na prestação de contas envolve os relatórios de sustentabilidade em vários países do mundo, incluindo o Brasil. Por aqui, os primeiros documentos que vão refletir os novos critérios do Conselho Internacional de Padrões de Sustentabilidade (ISSB, na sigla em inglês) serão publicados a partir de 2025, e os preparativos já devem estar em curso.
Se do lado da gestão, a regra influencia diretamente os departamentos financeiros e também os auditores, os Conselhos terão que priorizar o assunto cada vez mais e aumentar o escrutínio.Os ‘boards’ terão a oportunidade de se tornarem líderes em sustentabilidade. Aqueles que participarem ativamente deste processo e contribuírem para relatório efetivos terão mais sucesso.
Ainda assim, globalmente, o tema segue como um desafio para os Conselhos. Apesar de terem ciência sobre as oportunidades e riscos que a sustentabilidade representa, ainda é baixo o número dos conselheiros que afirmam ter conhecimento suficiente para desafiar a diretoria executiva sobre a execução dos planos sobre sustentabilidade. O tema foi abordado em pesquisa da Heidrick & Struggles, INSEAD e do BCG, divulgada em julho de 2023.
Inteligência artificial
Quanto mais negócios adotam a inteligência artificial, mais os Conselhos começam a considerá-la como sua obrigação de supervisão. Ao mesmo tempo, a ferramenta pode oferecer funções de uso para os próprios coneselheiros, como o auxílio no monitoramento e prevenção de riscos.
Como algoritmo de tomada de decisão para funções essenciais dos negócios, em alguns casos, a inteligência artificial pode criar um novo tipo de risco corporativo, inclusive ambiental. Entre os pontos de atenção está o aumento da necessidade de processamento dos computadores devido ao crescimento da IA, que pode gerar uma pegada de carbono muito grande.
É essencial garantir a transparência e a responsabilidade no uso dos algoritmos, proteger a privacidade dos dados dos clientes e garantir que a tecnologia seja usada de maneira correta.
Ética como foco principal
Novas tecnologias podem introduzir novas questões éticas. A IA, por exemplo, não é facilmente transparente e tem vieses, o que pode complicar a coleta de dados e a tomada de decisões.
Os Conselhos devem lidar proativamente com as preocupações éticas decorrentes da tecnologia, incluindo a forma como planejam superar os vieses implícitos de muitas soluções de software.
Diversidade na liderança
A busca pela paridade de gênero em todas as esferas das companhias é mais do que uma tendência momentânea. Trata-se de uma mudança cultural e estrutural em andamento em muitas organizações ao redor do mundo.
De acordo com um relatório da Delloite, empresas que possuem mulheres na presidência executiva têm, em média, conselhos mais equilibrados em termos de gênero do aquelas lideradas por homens. O caminho para isso ainda será longo: globalmente, apenas 5% dos CEO são mulheres.
Os líderes das empresas precisam se concentrar mais em garantir que as mulheres tenham igualdade de oportunidades no ambiente de trabalho. E a pressão interna e externa para que a paridade de gênero seja garantida também em cargos de liderança e na alta administração das companhias se mantém.
Avaliação dos Conselhos
A eficácia do Conselho continua sendo foco de todos os stakeholders de uma companhia. Conselheiros e executivos devem não apenas cumprir seus deveres fiduciários, mas também atuar com integridade. Isso significa impulsionar além do desempenho financeiro e considerar o impacto mais amplo das atividades empresariais.
Como resultado, os Conselhos precisam provar que realizam avaliações regulares e abrangentes que consideram todas as facetas da governança: composição, diversidade, gestão de riscos e muito mais.
Comunicação dos Conselhos
O mercado de capitais está em constante evolução. No Brasil, com o surgimento do Novo Mercado, as empresas tiveram que mudar a forma de comunicação com seus stakeholders. Os profissionais de relações com investidores aprenderam a se comunicar e a atender demandas do mercado que nunca haviam sido enfrentadas.
Os executivos das companhias estão cada vez mais conscientes de quanto a comunicação é importante para os negócios, mas isso ainda não acontece nos Conselhos. Ao mesmo tempo, a governança começa efetivamente a tomar um novo lugar nas discussões. Muitos stakeholders ainda não sabem do que se trata o tema, nem mesmo o papel dos Conselhos.
E aí é que entra o papel da comunicação. Realizada de forma efetiva, aumenta a credibilidade, reputação e confiança dos Conselhos. E tende a criar maior confiança dos stakeholders nas decisões da empresa.
Geopolítica internacional
O ambiente geopolítico internacional instável deve continuar gerando incertezas em 2024. Entre os principais riscos já levantados estão a escalada do conflito no Oriente Médio, a guerra da Ucrânia, as complexidades geopolíticas relacionadas à China, e uma economia global desigual que cria uma sensação de crise permanente.
Embora a maioria dos Conselhos queira manter o drama político fora da sala de reuniões, há impacto não só na economia e na cadeia de abastecimento global, mas também sobre o engajamento de acionistas, a cultura da empresa e muito mais.
Este deve ser um tema de conversa constante ao longo de 2024.Os Conselhos devem, portanto, garantir que a gestão adote estratégias para mitigar riscos e garantir a resiliência das companhias.