Apesar das dificuldades iniciais, o movimento de padronização de divulgação dos critérios ESG pelas companhias é benéfico. Por outro lado, isso não significa necessariamente que mais divulgação seja sempre melhor; ela deve ser significativa e útil no contexto da tomada de decisões empresariais e de investimento, defende o especialista em governança Douglas Chia. O advogado é presidente da consultoria Soundboard Governance e atua como Senior Fellow no Center for Corporate Law and Governance, da Rutgers Law School. Chia passou por empresas como Johnson & Johnson e Tyco International. Além do ESG, temas como cibersegurança e instabilidade política foram abordados nesta entrevista exclusiva à Boardwise. Confira os principais trechos abaixo:

Boardwise: Em geral, quais devem ser as principais prioridades dos Conselhos nas empresas ao redor do mundo hoje e no futuro próximo?

Douglas Chia: A preocupação que os Conselhos devem estar mais atentos hoje e nos próximos anos é a instabilidade política e o conflito ao redor do mundo e como isso pode impactar os negócios de suas empresas, tanto direta quanto indiretamente. Não é exagero afirmar que há muito em jogo nas eleições deste ano em vários países, e o resultado de qualquer uma dessas eleições pode ter impactos significativos em uma empresa, mesmo que o conflito político não esteja no país de origem dela. A instabilidade política e as mudanças de regime podem impactar os padrões de imigração, e isso tem efeitos em cadeia sobre questões trabalhistas e sociais em outros países. Conflitos abertos, ou até mesmo o aumento das tensões políticas, entre países podem levar a guerras comerciais e interromper cadeias de suprimentos de maneira significativa.

Boardwise: Como o sr. vê o crescimento do ESG em todo o mundo?

Chia: A maior parte do que é categorizado como ESG já é considerado há muitos anos, mas não havia sido explicitamente agrupado sob um termo coletivo. As empresas sempre pensaram em uma série de fatores que impactam seus negócios, e os investidores sempre consideraram como isso impacta seus portfólios, que não são puramente financeiros. A importância de definir e medir estes critérios com precisão só foi levada a sério recentemente — mais rapidamente em algumas partes do mundo do que em outras.

Boardwise: Como a definição de divulgação dos critérios ESG pode contribuir para as empresas e investidores?

Chia: Apesar das dificuldades iniciais, o movimento é benéfico. Mas isso não significa necessariamente que mais divulgação seja sempre melhor; ela deve ser significativa e útil no contexto da tomada de decisões empresariais e de investimento. Será importante que os reguladores equilibrem os custos reais para as empresas de coletar e divulgar dados ESG com os benefícios reais para o mercado. Em algum momento, adicionar requisitos de divulgação ESG terá retornos decrescentes e levará a exercícios de divulgação apenas por divulgação. Deve haver uma razão real para novos requisitos de divulgação. Os reguladores também devem considerar se há requisitos de divulgação que estão obsoletos e eliminá-los.

Boardwise: A efetividade dos padrões ESG?

Chia: A divulgação não pode ser um fim em si mesma e devemos avaliar periodicamente se está tendo o efeito pretendido. O nível de divulgação sobre mudanças climáticas continua aumentando com pouco ou nenhum impacto sobre os níveis crescentes do mar que a divulgação deveria abordar. Alguns estão se questionando se essa divulgação está apenas alimentando uma indústria de divulgação ávida por lucro para se manter em crescimento.

Boardwise: Empresas iniciantes devem se preocupar com a governança?

Chia: A governança das maiores corporações nem sempre é útil para pequenas empresas seguirem, particularmente startups e outras empresas em seus estágios iniciais de maturação, mesmo que pareçam estar enfrentando muitos dos mesmos problemas. Embora seja fácil dizer às pequenas empresas para seguir as práticas de governança das maiores e mais estabelecidas, não é realista esperar que empresas menores atinjam esses padrões em seus estágios iniciais. Algumas empresas estão apenas lutando pela sobrevivência e não têm a capacidade de elevar seus padrões de governança ao mesmo tempo. Isso não significa que não devemos nos preocupar com a governança das pequenas empresas, mas devemos ser realistas e dar-lhes a chance de encontrar seu caminho e crescer.

Boardwise: Como a cibersegurança deve ser considerada por empresas e seus Conselhos?

Chia: A cibersegurança deve estar no topo da lista de riscos para cada empresa. O mundo tornou-se tão dependente da tecnologia computadorizada e do fluxo de dados que mesmo uma pequena interrupção na cibersegurança pode ter um impacto massivo em uma empresa, setor ou região inteira. Existe um número crescente de maus atores com ferramentas inovadoras e métodos difíceis de detectar para se manter à frente daqueles que tentam prevenir ataques. Nem sempre é claro quem são esses atores ou suas motivações. Os Conselhos precisam se manter continuamente informados sobre os últimos desenvolvimentos em cibersegurança e garantir que a gestão tenha os recursos necessários para evitar ataques prejudiciais.